13 de maio de 2009

No dia 21 de dezembro de 2012, um raro alinhamento do Sol com o centro da Via-Láctea dará início a uma série de eventos desastrosos. São esperados ter




No dia 21 de dezembro de 2012, um raro alinhamento do Sol com o centro da Via-Láctea dará início a uma série de eventos desastrosos. São esperados terremotos, dilúvios, pragas e distúrbios eletromagnéticos que culminarão com o fim dos tempos. Não há como ignorar os sinais de que o fim se aproxima: crise econômica mundial, gripe suína, aquecimento global, alterações no ciclo solar, guerras e desigualdade.

A tese catastrofista se espalha e avoluma, incendiada pela internet, e há quem acredite piamente que até 2012 o mundo irá, mas de lá não passará. Até Hollywood embarcou na onda e lança uma produção milionária em novembro explorando o tema. A origem distinta para previsões coincidentes seria a prova cabal para o fim trágico da humanidade.


O rol de tragédias identificadas com a data está descrito em profecias das mais variadas culturas: oráculos romanos e gregos, o calendário maia, textos de Nostradamus, a Bíblia, o I Ching e até um programa de computador que filtra a internet atrás de tendências de comportamento.

É assim, misturando realidade com ficção e ciência com religião, que se criou a mais nova profecia para o fim do planeta.

Mas o que há de real nessa confusão de história, astronomia, astrologia e religião? “Muito pouco”, diz o professor de física da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Walmir Thomazi Cardoso. Segundo ele, o argumento que serve de base para boa parte das profecias - o alinhamento do Sol com o centro da Via-Láctea em 21 de dezembro de 2012 - é fraco. Esse fenômeno vai, de fato, acontecer, mas será mais um entre tantos outros. Para nós, humanos, ele poderá parecer inédito, porque acontece uma vez a cada 26 mil anos, mas, para o planeta Terra, que tem 4,5 bilhões de anos, já aconteceu pelo menos 173 mil vezes. “Se alguém espera que as tragédias descritas pelas profecias se concretizem por desequilíbrios astrais, está perdendo tempo”, explica Cardoso.

Especula-se que a disseminação da mística do dia 21 de dezembro de 2012 tenha partido de um erro de interpretação. Tudo começou quando alguém entendeu que o fim do calendário dos maias - uma extinta civilização indígena da América Central -, que acaba nesta data, era uma indicação de que o mundo ia acabar.

O raciocínio afobado ignorou a noção cíclica que os maias tinham do tempo - para eles, o fim estava ligado ao recomeço. “O que se seguiu, depois dessa interpretação errada, foi a distorção do que outros profetas disseram para que o conteúdo se encaixasse com o que se supunha que os maias haviam dito”, explica o astrônomo Alexey Magnavita. No caso de Nostradamus, por exemplo, foram interpretadas, à imagem da tese do fim em 2012, sete folhas perdidas do livro Profecias com desenhos do profeta francês. Nelas, estaria descrito o alinhamento galático de 2012 e suas consequências. Já na Bíblia, o livro escolhido para ser interpretado foi o Apocalipse de São João, um dos mais alegóricos e recheados de imagens que, fora de contexto, se encaixam em quase qualquer cenário de destruição. No I Ching foi concebido um modelo de análise dos resultados dados pelo jogo chamado Timewave theory. Nele, picos de atividade em anos específicos são detectáveis e apontam para grande movimentação em 2012. Todos os métodos pouco específicos e amplos demais para corroborar uma tese tão precisa quanto a que crava o fim do mundo para daqui a três anos.

Para os especialistas, as profecias dizem mais sobre a sociedade que as criou e lhes dá força do que sobre um suposto futuro. “Em tempos de busca por um sentido na vida, o homem fica mais suscetível às teorias apocalípticas”, explica o psicólogo Ari Rehfeld. Pode parecer um contrassenso sentir prazer com uma perspectiva tão negativa, mas a atenção que o assunto recebe desde que o homem compreendeu que o futuro é incerto nos traz, repetidamente, ao tema. E isso deve continuar em 2013.

fimdostempos.net